guerra globo bolsonaro #
oestadoacre reproduz, especialmente para quem não vê o JN, nem tv há pelo menos uns seis anos – como este blogueiro de fim de mundo, texto incitante do professor Gustavo Conde, mestre em linguística da Unicamp)…os melhores leitores não podem deixar ler – J R Braña B.
(…)A Globo sabe que não está acusando petistas desta vez. Sabe que agora ela lida com bandidos reais, que retaliam com violência e truculência.(…) – professor Gustavo Conde
Guerra Bolsonaro-Globo é real e pode estilhaçar o sistema
Por Gustavo Conde (é mestre em linguística pela Unicamp, editor e colunista do Brasil 247.)
Vou passar o relatório para quem não tem estômago de assistir à Globo (faço o sacrifício de monitorar o inimigo em nome da democracia).
O jornal nacional de ontem parece ter sido editado pelo Jack, o Estripador. Eles estão testando os nervos dos Bolsonaros e de quem volta a assistir a Globo ingenuamente em busca de jornalismo.
Mas não há dúvidas: estamos em uma nova safra de embate semiótico entre Globo e governo.
Por partes, como diria o colega aí de cima:
Sobre Bolsonaro, deram uma matéria de uns 4 minutos com uma pauta econômica e de reformas, como se nada estivesse acontecendo no submundo político do país.
Na sequência, uma mini inserção de 1 minuto, apenas relatando que Bolsonaro “pegou a memória do sistema de interfone”, com uma explicação ‘neutra’ da apresentadora seguida do vídeo de Bolsonaro, dizendo que “pegou” a memória para que “ela não fosse adulterada”.
Atenção ao verbo “pegar”, tão infantil quanto estratégico.
Como interpretar isso?
Bom, em primeiro lugar, a edição foi tão grosseira que é possível afirmar que foi de propósito.
Quatro minutos de um Bolsonaro ainda “presidente” e um minuto de um Bolsonaro “envolvido em escândalo”.
Dois mundos distintos.
Mas o sintoma de que o Escândalo da Casa 58 vai derrubar Bolsonaro é justamente a edição grosseira do jornal: não se fez uma matéria longa e detalhada, mas destacou-se alguma coisa para não perder a ‘suíte’.
A Globo sabe que não está acusando petistas desta vez. Sabe que agora ela lida com bandidos reais, que retaliam com violência e truculência.
Mas, ainda assim, ela demonstra a frieza habitual dos mafiosos: com toda a sua dicção açucarada e asséptica (sic), ela vai se divertir implodindo as bestas milicianas a conta-gotas, quase como se tivesse aprendido uma aula do The Intercept.
(…) ela (Globo) demonstra a frieza habitual dos mafiosos: com toda a sua dicção açucarada e asséptica (sic), ela vai se divertir implodindo as bestas milicianas a conta-gotas, quase como se tivesse aprendido uma aula do The Intercept.)
Ao fazer uma pauta cínica sobre um Bolsonaro “preocupado com o Brasil”, a Globo forra sua defesa prévia, pois sabe que o apodrecimento acelerado do governo lhe custará o ódio massivo das milícias digitais do clã.
É uma guerra semiótica de grandes proporções e consequências. A impressão de que a emissora recua será recorrente, assim como suas investidas.
Essa edição do jornal ainda mais visto pela população brasileira é histórica porque deixou um recado claro, subliminar a Bolsonaro: se quiser se alinhar a nós, temos a ferramenta editorial da contenção. Se quiser briga, faremos as matérias que incendeiam as redes com a nossa cara de paisagem habitual (sem, inclusive, o ódio que foi direcionado ao PT).
Essa, talvez, seja a informação nova nesse embate entre o jornalismo de cativeiro e um governo miliciano: a repercussão da TV aberta se projeta nas redes sociais e na internet.
A internet se tornou o grande carimbo de validação das teses e reportagens desovadas primariamente nas TVs abertas.
Sem repercussão nas redes, não há repercussão possível.
É nesse território que a Globo pisa sorrateira e delicadamente, para não cometer erros e nem acelerar demais a destruição dos Bolsonaros.
É nesse território que a Globo pisa sorrateira e delicadamente, para não cometer erros e nem acelerar demais a destruição dos Bolsonaros.
É uma posição até mais confortável para a emissora do Jardim Botânico: ela joga a matéria e as redes, progressistas ou não, fazem o resto.
É dinamite pura, uma vez que o PSL, partido do miliciano-presidente, está completamente submerso em um dos maiores escândalos de desvio de fundo eleitoral da história recente.
É uma nova ordem para uma nova guerra de comunicação no país que mais se utilizou do jornalismo de cabresto para derrubar governos.
É quase um patrimônio cultural [risos].
Bolsonaro é o rei dos animais mais posto da história. Se tivesse uma gota de caráter, pediria renúncia. Mas, como todo bandido, vai cair atirando.
Bolsonaro é o rei dos animais mais posto da história. Se tivesse uma gota de caráter, pediria renúncia. Mas, como todo bandido, vai cair atirando.
A Globo, por sua vez, se diverte com o rastilho de pólvora que jogou nas redes sociais do país, bastião das milícias bolsonaristas.
É uma nova realidade comunicacional para ela, um novo território a ser explorado que, inclusive, antecipa os movimentos de seu adversário.
Bolsonaro, por sua vez, buscou essa posição de ‘inimigo da Globo’ durante toda a campanha e durante todo o governo. Era um duelo fictício, no entanto, porque Globo e Bolsonaro remavam na mesma direção, de ódio à esquerda.
(…)Globo, também disputa o espólio do capitão.
Ocorre que o bolsonarismo implodiu. O fato de a Globo se reposicionar, mesmo com níveis consideráveis de ambiguidade, é uma consequência da implosão do PSL e do bolsonarismo como um todo: ela, Globo, também disputa o espólio do capitão.
Os cenários se repetem, mas também se renovam. Com Lula preso político, a Globo voltou a ser politicamente poderosa demais. Parlamentares, ministros do STF e procuradores em geral temem a Globo quase tanto quanto temem as milícias bolsonaristas (quando não fazem parte delas).
Com Lula em cena, esse temor era relativo, porque Lula significa, ele mesmo, a soberania conceitual do povo brasileiro. A representação de um Lula viajando pelo país e despachando de seu Instituto é um recado diário de que o Brasil não é propriedade privada de Globo, dos bancos e das elites empresariais.
Por isso, o cenário é perigoso: se Lula conquistar sua liberdade de direito em meio a essa guerra entre Globo e Bolsonaro, as consequências serão imprevisíveis. Ele pode acabar sendo a garantia de paz institucional possível em um quadro de guerra híbrida acrescido aos componentes históricos que caracterizam o nosso jornalismo subdesenvolvido.
(…)Brasil se tornou um barril de pólvora social e que só não explodiu ainda porque há excessos de cuidados por parte da esquerda(…)
Mas ele, Lula, pode acabar sendo também responsabilizado pela explosão social no país.
Convém não esquecer que o Brasil se tornou um barril de pólvora social e que só não explodiu ainda porque há excessos de cuidados por parte da esquerda e um volume imenso de ameaças por parte do governo.
Ver Bolsonaro cair vai lavar a alma da democracia. Mas é bom já ir se preparando para o caos.
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Pedro Celestino: a Lava Jato destruiu o símbolo da nossa capacidade realizadora, a Petrobras https://t.co/bCng8pz1WQ
— Brasil 247 (@brasil247) November 3, 2019