Nas décadas de 1970 e 1980, os dirigentes do Atlético Acreano,
liderados pelo então promotor Adauto Frota, sempre montaram bons times.
Eles levavam para as hostes celestes uma dúzia de ótimos boleiros do
futebol local e completavam o elenco com algumas peças trazidas de fora
do estado.
Numa das formações de 1980, por exemplo, o time botava em campo
Ilzomar; Pintão, Jaime, Lécio e Bento Zero Hora; Targino, Gilmar,
Paulinho Pontes e Pintinho; Adriano e Nirval. Todos experientes e íntimos
da deusa bola, sob o comando enérgico e competente do treinador Gualter
Craveiro.
Eis que, sabedores que esse grupo jogava muito, apesar de não haver
conquistado o título estadual daquele ano (o campeão foi o Juventus)
dirigentes do futebol peruano convidaram o Atlético para um torneio
internacional, com a participação de dois times lá deles e outro
boliviano.
O Atlético fez, como se dizia antigamente, “barba, cabelo e bigode”,
vencendo com facilidade o torneio promovido pelos peruanos. Tão fácil
que o goleiro Ilzomar praticamente não teve trabalho, permanecendo em
campo mais como espectador privilegiado, sequer sujando o uniforme de
jogo.
Até aí, tudo como nos melhores roteiros desses filmes de Hollywood
que passam inúmeras vezes nas sessões da tarde da televisão brasileira. Só
festa depois dos jogos. Comemorações efusivas entre os membros das
delegações dos três países, regadas a muitos litros de cerveja cusquenha.
Acontece que, na manhã do dia marcado para a volta do Galo, já com
o dever cumprido, um grupo de jogadores, acompanhado do professor
Gualter, saiu às compras na zona franca dos “patrícios”. Afinal, era véspera
de Ano Novo e todo mundo queria levar pra casa umas lembrancinhas.
No meio do grupo o lateral Zero Hora, que era conhecido por se
apropriar indevidamente do que não lhe pertencia. E então, para fazer jus à
fama, na primeira oportunidade o dito cujo surrupiou do balcão de uma loja
um carrinho de brinquedo, miniatura de um carro de polícia, movido à
pilha.
Depois, quando o grupo já havia saído da loja e andado alguns
quarteirões, o Zero Hora mostrou o brinquedo para a turma, afirmando que
havia comprado por um bom dinheiro. O Gualter, que era policial militar,
ficou doido pelo carro e fez proposta de compra ao lateral atleticano.
Não houve, porém, acordo quanto ao preço. Mas aí, a essa altura,
agentes policiais já estavam à caça do gatuno. Percebendo a movimentação,
Zero Hora disse para o Gualter: – Como o senhor é um cara legal, eu vou
lhe dar o carrinho de presente -. O Gualter aceitou e quase foi parar no
xilindró!
Francisco Dandão – cronista e tricolor – sabe tudo e mais um pouco de futebol