É curioso o Brasil. Ontem, participei do 1º Fórum de Engenharia, organizado por dezenas de entidades do setor, preparatório para o 1º Encontro de Engenharia que ocorrerá em Brasilia.
Houve apresentações de todos os tipos: diagnósticos precisos sobre ferrovias, os desdobramentos das pesquisas da Embrapa, o extraordinário trabalho desenvolvido pelo CGEE (Centro de Gestão de Estudos Estratégicos), as menções aos planos de desenvolvimento que correm individualmente em vários ministérios.
O que se conclui disso tudo? O país tem grandes vantagens comparativas, na questão da energia verde, das terras raras, do potencial agrícola, do mercado de consumo. Não apenas isso. Tem também uma enorme variedade de centros de pensamento estratégico e científico. Mesmo com o terremoto Temer e com o tsunami Bolsonaro, há centros de pensamento estratégico no CGCE, na Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisa), no IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), no Banco Central, no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas), em centros de excelência em engenharia – como o COPPE, a Poli, o ITA. Em suma, o pensamento estratégico e tecnológico brasileiro está em linha com o que acontece no mundo industrializado.
Falta visão estratégica da Presidência da República. Nem se diga do governo como um todo. Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio-BNDES, da Fazenda, do Orçamento e Planejamento, de Ciência e Tecnologia, todos eles desenvolvem, por conta própria, seu planos de ações, inclusive com integração de outros ministérios.
Em outros tempos, como atuaria Lula?
Faria reuniões periódicas com os Ministros, cobraria planos e ideias. Entenderia as mais relevantes e chamaria o Ministro responsável para conversar. Questionaria de todos os lados até sentir firmeza. Na reunião seguinte do Ministério, aquele projeto viraria plano de governo, com todos os ministérios envolvidos.
Mais que isso. Estimulou diversas formas de participação da sociedade civil, desde as secretarias para movimentos sociais, até o Conselhão, a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), os grupos de pensamento reunidos no CGCE. E todos os convidados participavam com a convicção de que as melhores ideias se tornariam planos de ação do governo.
E agora? A estratégia de Lula para 2026 são as chamadas “entregas”, e só. Dia desses esteve em um evento no Mato Grosso, demonstrou que as entregas do governo federal – que é, efetivamente, um governo republicano – superavam em muito as entregas do governo estadual e do governo Bolsonaro. Ótimo! E o que interferiu na sua popularidade?
Tome-se o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Há uma lógica atrás do PAC, as tais vias bioceânicas, que atende interesses do agronegócio, da engenharia, de máquinas e equipamentos, consolida a parceria e o interesse da China. Uma obra que tem profundo papel estratégico, preparando o país para o novo momento da economia mundial, é transformado, na visão de Lula, em um conjunto de entregas isoladas.
Daqui até 2026 será isso: entrevistas a rádios do interior, entrevistas para a Globonews, rádios do interior, CNN, fugindo como o diabo da cruz de qualquer envolvimento com os grupos que assumiram a linha de frente de defesa da democracia no período da Lava Jato, do impeachment e da sua prisão.
Para garantir a paz geral, colocou como anteparo Rui Costa, um Ministro que não acredita em mudanças climáticas, que acha que PM que mata ganha votos e que emperra todos os projetos que passam por ele, antes de chegar ao Lula.
O pior de tudo isso é que, quando se manifesta em eventos internacionais, percebe-se que Lula sabe muito bem quais os aspectos essenciais do desenvolvimento, da geopolítica, o papel da ciência e da tecnologia. Seus discursos – especialmente os de improviso – são uma síntese admirável dos pontos essenciais para um desenvolvimento autônomo.
Quando desce em Brasília, desaparece. Ou só aparece em eventos que até podem ser relevantes, mas que a timidez política transforma em convescotes.
Tudo isso às vistas de uma mídia que perdeu completamente o senso de país, e que aposta suas fichas no caminho mais direto para a destruição do Estado e da nação brasileira: Tarcísio de Freitas e seus milicianos da PM.
(Luis Nassif, do GGN)