Os gestores públicos e as instituições de ensino deveriam conhecer melhor a história do Alexandre. O programador, de 23 anos, recentemente deixou uma empresa da área tecnológica para trabalhar em outra, de soluções digitais e inteligência artificial, com um salário 50% maior. Essa ascensão aconteceu após o jovem concluir um curso de tecnólogo, com dois anos de duração.
Mas o que o poder público e a academia têm a ver com o Alexandre?
Tudo. Na empresa de inteligência artificial onde ele atua, existem cerca de 100 vagas abertas. Entretanto, não há profissionais qualificados para ocupá-las.
Esse retrato não é isolado. No Brasil, milhares de postos em tecnologia permanecem sem preenchimento. O chamado “apagão tecnológico” preocupa cada vez mais, sobretudo porque empresas e cidadãos dependem de soluções digitais para funcionar, produzir e se comunicar. Hoje, o país forma cerca de 53 mil profissionais por ano na área de tecnologia, mas a demanda do mercado ultrapassa 159 mil — uma lacuna superior a 100%. Estima-se que já exista um déficit acumulado de quase 800 mil profissionais.
Num cenário global de mudanças aceleradas, dominar tecnologias de informação e comunicação deixou de ser diferencial para se tornar condição de sobrevivência. Profissões tradicionais perdem espaço: entre 2020 e 2023, a participação de ocupações em declínio caiu de 15,4% para 9% da força de trabalho mundial, enquanto as funções ligadas a tecnologia saltaram de 7,7% para 13,5%.
Crédito: Acácio Pinheiro/Agência Brasil
Milhares de vagas seguem abertas porque a mão de obra disponível não possui as habilidades exigidas. Essa fragilidade aparece no ranking global de competitividade de talentos, elaborado pela escola de negócios Insead, no qual o Brasil figura apenas na 75ª posição entre 134 países. O índice avalia a capacidade de formar, atrair e reter talentos.
Entre os gargalos apontados pela Insead está a deficiência educacional. O Brasil apresenta resultados frágeis no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado em 79 países pela OCDE. Em 2022, o exame revelou que o país ficou em 64º lugar em matemática e 53º lugar em leitura.
O cenário, embora preocupante, pode ser revertido. Isso exige políticas públicas consistentes, que fortaleçam a educação básica e aproximem o ensino técnico e superior das demandas do mercado. Somente assim será possível preparar trabalhadores atuais e futuras gerações para o universo digital que se impõe. O futuro não se constrói amanhã; ele depende de decisões e esforços coletivos, feitos hoje. O Alexandre que o diga.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Editora O DIA
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